Flacidez, dor ou perda de urina após o parto não são normais — são sinais de que o corpo precisa de reabilitação antes de ser cobrado.
Flacidez abdominal, escape de urina ao espirrar, dor nas relações ou sensação de peso na pelve. Para muitas mulheres, esses sintomas se tornam rotina após o parto — mas não deveriam. De acordo com estudos da Sociedade Internacional de Continência indicam que entre 25% e 35% das mulheres podem apresentar algum grau de disfunção do assoalho pélvico após a gestação e o parto, incluindo incontinência urinária, dor pélvica ou prolapso. Ainda assim, o tema ainda é pouco abordado nos consultórios e praticamente ausente nas conversas de preparação para o puerpério.
A fisioterapeuta pélvica Flaviana Teixeira, especialista no cuidado íntimo feminino, alerta para o impacto silencioso dessas alterações. “Existe uma cobrança enorme para que a mulher volte a ser produtiva, volte a treinar, volte a ter libido. Mas o corpo precisa de tempo para se recuperar e, muitas vezes, de tratamento. O pós-parto não é o fim do ciclo da gestação — ele ainda é parte dele”, explica.
A fisioterapia pélvica atua justamente nesse ponto: ela identifica, trata e previne disfunções musculares e funcionais causadas pela gestação e pelo parto, seja ele vaginal ou cesáreo. O tratamento pode incluir exercícios específicos, técnicas como biofeedback, eletroestimulação funcional, terapia manual, exercícios de reabilitação pélvica e orientações posturais, comportamentais e sexuais. Tudo de forma individualizada, respeitando o corpo e o tempo da mulher.
Apesar da eficácia, a prática ainda é pouco difundida no Brasil. Muitas mulheres sequer sabem que existe tratamento para o desconforto que vivem em silêncio. Flaviana relata casos frequentes de pacientes que demoraram anos para buscar ajuda, acreditando que sentir dor ou escapar xixi eram “normais” depois do parto. Outro alerta importante é em relação ao retorno precoce às atividades físicas intensas. “Voltar para a academia ou para a corrida sem avaliar o assoalho pélvico pode agravar quadros de incontinência, causar prolapsos e trazer consequências futuras para a saúde íntima”, afirma.
Por isso, Flaviana defende “diretrizes internacionais, como as do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, já recomendam que toda mulher seja avaliada por um fisioterapeuta pélvico após o parto, independentemente da via de parto ou da presença de sintomas. Mais do que um cuidado funcional, a reabilitação pélvica também é uma forma de reconexão com o próprio corpo. “A mulher que acabou de parir precisa ser acolhida, não pressionada. A fisioterapia nesse momento é sobre cura, recuperação e respeito”, conclui.
Fonte: Flaviana Teixeira — Fisioterapeuta Pélvica @flavianateixeirafisio | flavianafisiopelvica.com.br